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3. O Amante - Textos publicados na Folha

Helena Ignez sublima amor no palco

(publicado em 05/01/2001)

VALMIR SANTOS
Da reportagem local

A atriz Helena Ignez, 60, oferece a montagem de "Savannah Bay" a todas as pessoas que, mesmo diante "dos momentos trágicos, de desequilíbrios profundos", reorganizaram suas forças, regeneraram-se. "Não pularam diante do abismo", em suma.

A peça de Marguerite Duras (1914-96) pode ser definida como uma ode ao amor. Amor que a escritora francesa, como reza um dos mitos em torno dela, talvez não tenha experimentado.

"Há quem diga que Duras não abriu o coração, mas em 'Savannah Bay' ela se abre completamente", diz Helena. Dirigido por Rogério Sganzerla, o espetáculo inicia temporada hoje em São Paulo, cidade que viu apenas quatro apresentações da peça em 99.

Segundo Helena, "Savannah Bay" foi escrita por Duras após um período vertiginoso, no qual se recuperava do alcoolismo e passou 14 meses em coma.

Mas a peça sublima outra vertigem autobiográfica, a amorosa. A relação de Madeleine, uma atriz veterana, "na idade do apogeu do mundo", com a Mulher Jovem (Djin Sganzerla), que a visita e se torna cúmplice em seu jogo de memória, espelha o caso de Duras com Yann Andréa, rapaz cerca de 40 anos mais novo, com quem ela viveu durante 16 anos.

Para Helena, a Mulher Jovem é francamente inspirada em Yann, assim como Madeleine expõe nuanças da própria autora. "Talvez ela tenha escolhido uma mulher para representar o amante justamente para elevar o sentimento do amor à condição maior que a do sexo", diz.

"Madeleine tem a calma de um vulcão tranquilo, que de vez em quando irrompe. E como irrompe? Na forma de memória pontuada por muita ironia, sutileza intelectual, artística, por uma desordem psíquica, enfim, por uma atmosfera onírica e poética", continua Helena.

Ela contracena com a filha Djin, 23, que define "Savannah Bay" como uma "peça de vozes". "É muito difícil trazer a linguagem poética para o macio da boca, para o sentimento que Duras expressa em seu texto." Outra filha de Ignez, Sinai Sganzerla, assina a trilha sonora.

A produção independente tem apoio do hotel Normandie, Instituto Takano, Casarão Mudanças e papelaria Universitária.

Peça: Savannah Bay
Texto: Marguerite Duras
Direção: Rogério Sganzerla
Com: Helena Ignez e Djin Sganzerla
Cenografia: Fernando Mello da Costa
Iluminação: Alessandra Souto
Quando: estréia hoje, às 21h30; sex. e sáb., às 21h30; dom., às 20h30. Até 11/2
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 0/xx/11/3277-3611)
Quanto: R$ 12

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