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12. A Consciência de Zeno - Textos publicados na Folha

Coletânea de contos apresenta Italo Svevo múltiplo

(publicado em 08/09/2001)

FRANCESCA ANGIOLILLO
da reportagem local

Italo Svevo (1861-1928) é ainda pouco conhecido do público brasileiro, mas a difusão de sua literatura por aqui ganha uma contribuição na semana que vem: "Argo e Seu Dono", coletânea de contos selecionados pela editora paulista Berlendis & Vertecchia para sua série Letras Italianas.

A introdução foi encomendada a Elvio Guagnini, 61. O professor da Universidade de Trieste --cidade onde nasceu Svevo, quase no limite da Itália com a Áustria-- é uma autoridade na obra do autor. Svevista a partir dos anos 70, desde 97 dirige, com Giuseppe Camerino, a revista anual "Aghios", totalmente dedicada a estudos svevianos.

Em seu texto introdutório ao volume, que tem sete contos e uma novela, Guagnini cumpre a função de apresentar Svevo.

O professor não participou da escolha dos escritos, mas a julga bem feita e abrangente, não só por cobrir cronologicamente todas as épocas da produção de narrativa breve de Svevo. Ele acha, também, que os vários tipos de texto ajudam a compor um panorama da obra do narrador.

"Há contos que elegem um momento fulminante; tem os que representam a realidade em tom de fábula; outros, como "A Tribo", que são uma espécie de apólogo; há os que se fundamentam sobre a consciência, misturando presente e passado; os de tipo 'reportage', como 'Nós do Bonde de Servola'; e ainda os que são psicologicamente muito complexos, da última fase do Svevo narrador, como 'O Meu Ócio' e 'A Novela do Bom Velho e da Bela Jovem'."

Entre as características que Guagnini mais frisa, está o vanguardismo do autor. Em termos temáticos, diz, "a produção de Svevo no século 19 já era afinada com problemas de uma extraordinária modernidade".

"Em primeiro lugar, a questão do homem engaiolado pelos mecanismos da rotina, que tem de dar conta do ritmo imposto pela realidade. E a reflexão sobre a incapacidade de inserção, ou mesmo a recusa a inserir-se."

Ele cita como bom exemplo o segundo conto do livro, "O Assassinato da Via Belpoggio", "texto de desconcertante modernidade, não só pelo tom da narrativa, pelo modo como emerge a consciência da realidade, mas também porque o assassino é um burguês que perdeu essa sua condição e espera recuperá-la com o crime".

Ironicamente, a outra inovação que Svevo representa foi justamente um traço rejeitado por muitos de seus contemporâneos. Em busca da limpeza formal, Svevo frequentemente era acusado de não saber escrever.

"Quem o acusava de escrever mal tinha como escrever bem usar uma linguagem ornada. A escritura de Svevo é 'descuidada', mas não porque não soubesse escrever. O que hoje nos parece muito moderno em sua escrita é essa capacidade de adaptar-se aos vários registros da realidade."

ARGO E SEU DONO ("Argo e il Suo Padrone", contos). De: Italo Svevo. Editora: Berlendis & Vertecchia (tel. 0/ xx/11/ 3085-9583, www.berlendis.com). Tradução: Liliana Laganá. Apresentação: Elvio Guagnini. Ilustrações: Hebe de Carvalho. 192 págs. R$ 26.

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