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14. A Revolução dos Bichos

Leia o texto da contracapa do livro

FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor de Brasil da Folha de S.Paulo

George Orwell publicou A Revolução dos Bichos, numa época em que, por conivência ou desconhecimento parcial de suas atrocidades, o comunismo soviético ainda gozava de enorme prestígio nos meios progressistas. Impulsionado pela atmosfera da "Guerra Fria" --expressão, aliás, atribuída a Orwell--, o livro fez sucesso instantâneo. Ninguém, depois dele, teria o direito de ainda ser inocente.

Poucas obras seriam tão instrumentalizadas à revelia de seu autor. Crítico precoce do stalinismo, Orwell sempre se definia como um socialista de convicções profundamente democráticas.

Os Estados Unidos transformaram seu livro numa peça de propaganda do anticomunismo e a CIA chegou a providenciar uma versão em desenho animado, distribuída no mundo inteiro, com a cena final adulterada. Morto em 1950, aos 46 anos, Orwell provavelmente teria morrido uma segunda vez, de desgosto, ao ver sua obra desvirtuada pelas engrenagens do macarthismo.

O comunismo, pelo menos na forma que o conhecemos, pertence hoje ao cemitério da história. A Revolução dos Bichos, porém, sobreviveu à experiência que a tornou possível.

A fábula dos animais que se rebelam contra o tirano que os explorava e, em nome de ideais igualitários, constroem uma sociedade ainda mais opressiva, preserva seu interesse e pára em pé mesmo sem referência imediata à história.

A linguagem quase simplória e as alegorias transparentes fazem do livro uma delícia para crianças. Mas não só. Sua máxima moral, de que "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros", talvez traduza, para o bem e para o mal, uma das poucas verdades ancestrais acerca da dominação, da Idade do Bronze aos dias que correm.

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