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30. Quase Memória

Depois do chá, ABL escolhe novo titular

(publicado em 23/03/2000)

CRISTINA GRILLO
da sucursal do Rio

Hoje à tarde, por volta das 17h, a ABL (Academia Brasileira de Letras) conhecerá seu mais novo imortal.

Logo após o tradicional chá das quintas-feiras, os membros da instituição se reunirão para escolher o novo titular da cadeira número 3, antes ocupada pelo escritor e jornalista Herberto Sales, morto em agosto de 1999.

A eleição deverá ser rápida. O escritor Carlos Heitor Cony, 74, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é o favorito.

Conhecedores dos processos eleitorais da ABL estimavam, na terça-feira à tarde, que Cony já tinha garantidos pelo menos 19 dos 37 votos em disputa, total que, se confirmado, garante sua eleição. O escritor teria ainda a promessa de outros seis votos.

Vagas

Para ser eleito, o candidato precisa ter metade mais um dos votos. A ABL tem 40 membros e há três vagas abertas.

Além da de Herberto Sales, há ainda as de João Cabral de Melo Neto, morto em outubro do ano passado e cujo sucessor será eleito na próxima semana, e a de Carlos Chagas Filho, morto em fevereiro, com eleição prevista para julho.

Três outros candidatos disputam a eleição.

O mais forte oponente de Cony é o filólogo Leodegário de Azevedo Filho, 73.

Cony pouco fala sobre as eleições de hoje e diz não acreditar no favoritismo.

"Não sei quantos votos terei e admiro meu concorrente (Azevedo Filho), que além de seu valor como filólogo, é um homem extremamente cordial", disse.

Para o escritor, que no momento prepara uma biografia de José Lins do Rego, uma eventual derrota não será "nenhuma fatalidade".

"A Lusitana continuará rodando", disse.

Enquanto Cony entra na disputa pela primeira vez, Azevedo Filho tenta ser eleito para a ABL pela segunda vez.

O filólogo (estudioso do idioma) concorreu em agosto de 1997 à vaga anteriormente ocupada por Darcy Ribeiro. Teve como oponente um peso-pesado da cultura brasileira --o economista Celso Furtado.

"Nasci sob o signo da luta. Só entro em eleições disputadíssimas", disse à Folha o filólogo, que perdeu para Furtado, mas orgulha-se de ter conseguido 15 votos contra 22 do vencedor.

Reza a tradição da ABL que, uma vez eleitor de um candidato, sempre eleitor do mesmo candidato.

Assim, uma primeira tentativa seria uma forma de sedimentar um eleitorado.

"Costuma ser assim, mas infelizmente perdi dois votos fundamentais que tinha garantidos, os de João Cabral e de Carlos Chagas", disse Azevedo Filho.

Disputa

Apesar de a eleição de hoje não suscitar uma polêmica como a que elegeu o economista Roberto Campos para suceder o dramaturgo Dias Gomes --que levantou uma divisão entre as alas "esquerda" e "direita" da ABL-- a disputa Cony versus Azevedo Filho também tem suas nuances.

Articuladores da candidatura de Cony defendem a tese de que um escritor de seu porte tem de estar na ABL.

Nos últimos anos, Cony ganhou o Prêmio Machado de Assis (o mais importante da ABL, concedido pelo conjunto de sua obra), o Jabuti (duas vezes: em 96, por "Quase Memória". e, em 98, por "A Casa do Poeta Trágico") e o Nestlé (em 97, por "O Piano e a Orquestra").

Já os defensores de Leodegário de Azevedo Filho argumentam que uma instituição dedicada à preservação e divulgação do idioma precisa ter em seus quadros um filólogo.

Atualmente, entre os 37 acadêmicos, não há nenhum filólogo. O último a pertencer aos quadros da instituição foi Antonio Houaiss, morto em março de 1999.

Há ainda dois outros candidatos inscritos, mas é pouco provável que os dois recebam votos.

Um dos candidatos é Antônio Lopes de Sá, 72, presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis.

No currículo que entregou à ABL ao fazer sua inscrição, Lopes de Sá informa que é doutor em ciências contábeis e livre docente pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil (atual UFRJ), entre outros títulos.

O outro candidato é Waldemar Cláudio dos Santos. Ao formalizar sua inscrição à vaga, Santos não entregou seu currículo à Academia Brasileira de Letras. A Folha tentou localizá-lo por telefone.

Em sua casa, no Rio, informaram que ele passa férias em Maceió (Alagoas).

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