Folha Online
Biblioteca Folha
30. Quase Memória

Escritor quer destacar não-acadêmicos

(publicado em 24/03/2000)

ALEXANDRE MARON
da sucursal do Rio

Carlos Heitor Cony recebeu do acadêmico Antonio Olinto a notícia oficial de que vencera a eleição para a ABL às 16h29 de ontem. Estava sentado em uma poltrona no escritório de seu apartamento na Lagoa, na zona sul do Rio, tentando aparentar tranquilidade.

Enquanto esperava, Cony pediu que as linhas telefônicas de sua casa ficassem livres para receber a "possível notícia da vitória". Depois de Olinto, foi a vez de Arnaldo Niskier telefonar para dar-lhe os parabéns.

Logo em seguida sua mulher, Beatriz Lajta Cony, o abraçou. Contido, sorriu e foi se trocar para receber os acadêmicos que deveriam chegar na próxima meia hora. "Costumo usar tênis, ser mais informal, mas, neste caso, preciso recebê-los de sapatos", comentou.

Cony já esperava vencer. Durante todo o dia, que ele tentou fazer parecer o mais normal possível, já fizera alguns contatos por telefone com acadêmicos e chegara a contar 22 votos.

"Eu até esperava vencer, mas não pensei que conseguiria essa diferença de 24 votos a 12. Estou satisfeito com esse resultado."

Já vestido, o novo acadêmico ligou às 16h47 para seu competidor, Leodegário de Azevedo Filho, que lhe enviara flores naquela tarde. "Leodegário, você foi um gênio. Elegantíssimo. Obrigado pelas flores", disse.

Às 17h, Beth Niskier, mulher de Arnaldo Niskier, chegou para cumprimentá-lo. Pouco depois, chegou o primeiro acadêmico, Alberto Venâncio Filho. A ele se seguiram o presidente da ABL, Tarcísio Padilha, Josué Montello, Evandro Lins e Silva, Olinto e Niskier, entre outros. Impossibilitado de comparecer, Celso Furtado ligou de Paris.

Cony ainda não sabe para quando marcará a data de sua posse ou quem fará o discurso de saudação. "Só pensarei nisso amanhã. Preciso combinar com minha filha, que disse que gostaria de estar presente. Ela mora e trabalha em Roma e precisa encontrar uma data."

O novo acadêmico prometeu que, na ABL, procuraria reforçar o culto aos autores brasileiros não-acadêmicos. "Há diversos grandes escritores que não foram da Academia, por diversos motivos, entre eles uma eventual falta de oportunidade. Posso citar Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre e Erico Verissimo, por exemplo."

Até o fim deste ano, Cony espera concluir a biografia de José Lins do Rego. Atualmente, está na fase de pesquisa. "Não vou escrever uma biografia cheia de notas de rodapé, mas também não será um trabalho romanceado", conclui.

Livro da semana

Livro anterior

"Sargento Getúlio"
Lançado: 21/12


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.