Folha Online
Biblioteca Folha
30. Quase Memória

Cony realça otimismo dos anos 50

(publicado em 21/12/2002)

JOÃO BATISTA NATALI
da reportagem local

É ANTIGA a relação de afeto e incondicional admiração que liga o escritor Carlos Heitor Cony, 76, ao ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976).

"JK, Como Nasce uma Estrela" é o último produto dessa relação. Cony, cronista e integrante do Conselho Editorial da Folha, autor de 27 livros e membro da Academia Brasileira de Letras, já havia exercitado a tarefa de biografar Juscelino. Em contatos pessoais com JK nos anos 70, participou da redação das memórias que ele produzia e redigiu o tomo publicado depois que ele morreu.

O homem e o período JK são temas de permanente interesse editorial. Há hoje 15 títulos nas livrarias. O próprio Cony reconhece a excelência de alguns deles, como os de Maria Victoria Benevides, Cláudio Bojunga, Ronaldo Costa Couto ou José Louzeiro.

Por que, então, percorrer mais uma vez uma trilha já tão esquadrinhada? Porque não havia, até agora, um trabalho sucinto e redigido numa linguagem mais simples, pelo qual jovens e adolescentes pudessem entender aquele Brasil e seu presidente, um período muito rico de bem-sucedidas políticas públicas e de elevada auto-estima da identidade nacional.

O novo livro é redigido em dois planos. No primeiro, um personagem fictício, Serginho, procura se informar com o pai, advogado, sobre esse pedaço de passado para ele bastante remoto.

No segundo, há o JK nascido em Diamantina (MG), a morte do pai e a pobreza da infância, a Faculdade de Medicina, a Prefeitura de Belo Horizonte, o governo de Minas e a Presidência da República (1956-1961). Um homem namorador, político proscrito pelo regime militar, vítima de um acidente rodoviário que o matou.

Cony não trai em momento algum a verdade histórica. Mas encaminha a narrativa de tal forma que os ângulos controvertidos são abordados na defensiva, e as críticas relegadas à condição de pimenta lançada por adversários.

A história republicana traz poucos personagens que se adaptariam a esse equilíbrio entre o rigor factual e o enfoque edificante.

Cony é sensível ao fato de Juscelino ter sido bem mais que um político. Sua "era" definiu uma maneira otimista de enxergar o futuro e acreditar na competência das instituições oficiais. Foi um raro momento em que vigorou o consenso segundo o qual político não é necessariamente malandro, e o Brasil até que tem jeito.

O autor retrata tudo isso com convicção comovida. JK, lembra, "acreditava ter o seu destino escrito numa estrela". Está, metaforicamente, entre as maiores da vida pública. E, dependendo do olhar, virou uma outra estrela luminosa que pode estar brilhando por aí.

JK, Como Nasce uma Estrela
Autor: Carlos Heitor Cony
Editora: Record
Quanto: R$ 18 (158 págs.)

Livro da semana

Livro anterior

"Sargento Getúlio"
Lançado: 21/12


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.