3. O Amante - Textos publicados na Folha
Marguerite Duras morre aos 81 em Paris
(publicado em 04/03/1996)
VINICIUS TORRES FREIRE
de Paris
A escritora francesa Marguerite Duras morreu na manhã de ontem, aos 81 anos de idade, em seu apartamento em Paris. Não foi informada a causa da morte, mas Duras sofria de enfisema pulmonar.
Romancista, roteirista de cinema e dramaturga, Duras já era conhecida como uma das maiores autoras francesas do século quando seu romance "O Amante" recebeu o mais famoso prêmio literário francês, o Goncourt, em 1984.
O livro vendeu cerca de 2 milhões de exemplares na França e foi adaptado para o cinema, em 1992, pelo diretor Jean-Jacques Annaud. Duras não gostou do filme e disse que autorizou a adaptação "por causa da grana". "O Amante", de fundo autobiográfico, trata do romance entre uma adolescente francesa pobre e um herdeiro chinês no Vietnã nos anos 30.
Marguerite Duras, pseudônimo de Marguerite Donnadieu, nasceu em 4 de abril de 1914, em Gia-Dinh, perto de Saigon, no Vietnã, que era então a Indochina, colônia francesa. Seus pais eram professores pobres. Depois da morte do marido, sua mãe investiu no cultivo de terras imprestáveis. Duras era então interna de um colégio em Saigon.
As memórias desse período são a base de vários de seus romances, como "Uma Barragem Contra o Pacífico", de 1950.
Duras se instala em Paris em 1932. Em entrevista a uma rádio francesa em 1992, a escritora disse que "morreu aos 18 anos", quando deixou a Indochina.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Duras dá abrigo a membros da Resistência contra a ocupação alemã. A escritora dizia ter salvo a vida do presidente François Mitterrand (1916-1995), então na Resistência.
Depois da guerra, Duras milita no Partido Comunista Francês, com o qual romperia violentamente. Nos anos 80, a escritora viria a apoiar as candidaturas de seu amigo socialista Mitterrand.
Em 1959, Duras escreve o roteiro de "Hiroshima Meu Amor", filme de Alain Resnais. Entre peças de teatro, romances e roteiros de cinema, Duras deixou cerca de 50 obras publicadas.
A jornalista Françoise Giroud, ex-diretora da revista "L'Express", disse ontem a uma rádio francesa que Duras "era um personagem um pouquinho difícil, certamente, e profundamente original, uma grande escritora. Ela tinha consciência disso e fazia questão de ser tratada como a maior escritora francesa. Nada a irritava mais do que dizer que ela poderia ser a segunda maior".
Uma cerimônia será realizada na quinta-feira, na igreja de Saint-Germain-des-Près, em homenagem à escritora. Duras morava no bairro de Saint-Germain, tradicional reduto de escritores e artistas.
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