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3. O Amante - Textos publicados na Folha

Ikeda une Ocidente e Oriente com Duras

(publicado em 31/07/1998)

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

O espetáculo "Waiting", que Carlotta Ikeda estréia hoje no teatro Sesc Pompéia, dentro do 7º Fiac (Festival Internacional de Artes Cênicas), revela o encontro entre Ocidente e Oriente que marca a vida desta dançarina e coreógrafa.

Nascida no Japão, Carlotta começou a estudar dança no início dos anos 60, na Universidade de Tokyo. Logo se interessou pelo trabalho de duas coreógrafas simbólicas da modernidade: a alemã Mary Wigman e a norte-americana Martha Graham.

Na década seguinte, Carlotta se tornou uma das principais personalidades do butô, o movimento artístico que surgiu no Japão no final dos anos 50, estimulado por Kazuo Ohno e Tatsumi Hijikata.

A partir de 81, Carlotta começou a se apresentar na França, onde vive atualmente. No Fiac deste ano, cujo tema é "A Presença do Sagrado nas Artes", ela representa a exceção. Ao contrário das demais atrações, que estão trazendo a São Paulo tradições antigas originadas no Oriente, Carlotta mostra dança contemporânea, já absorvida pelo Ocidente.

"Faço parte da geração que criou o butô, a dança moderna japonesa que significa uma maneira livre de dançar. Hoje existe uma segunda geração que se aprisiona ao rótulo butô. Procuro fugir das definições", diz a coreógrafa.

Lacônica, Carlotta foge de explicações, sugerindo que sua arte profundamente interiorizada não cabe em conceitos fechados.

Segundo a coreógrafa, a integração ao Ocidente é um fato natural em sua vida. "A arte tem necessidade de influências. Minha dança não possui nacionalidade, está além das fronteiras. As influências entre Oriente e Ocidente são antigas e prevalecem até hoje. Não há nada de novo."

"Waiting", que estreou em 1996, é um solo interpretado por ela que se baseia na obra da escritora Marguerite Duras. De nacionalidade francesa, mas nascida na Indochina, a representação de Duras permite a Carlotta insinuar os elos entre Ocidente e Oriente.

"Há muito tempo descobri a obra de Duras, que sempre me tocou muito. Quando lia seus livros, uma energia percorria todo meu corpo", diz Carlotta.

Expressando solidão, dor e êxtase, o mistério da existência e da morte, "Waiting" não se apega aos conteúdos narrativos da obra de Duras. "Não quero dançar as palavras de Duras. A energia que ela transmite em seus livros é como a de um animal. Suas palavras são como ossos e músculos. Acho que seu corpo inteiro está presenta na escrita."

Para ilustrar seu pensamento, Carlotta recorre a uma frase de Duras: "É preciso fechar os olhos para enxergar com clareza".

A essa afirmação, Carlotta acrescenta: "Quando danço é como se estivesse vendo dentro de mim, como se meus olhos estivessem voltados para dentro do corpo".

Espetáculo: "Waiting"
Com: Carlotta Ikeda
Quando: hoje e amanhã, às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia, tel. 3871-7700)
Quanto: R$ 10 e R$ 20
Patrocinadores: Grupo Accor, Eletrobrás, Petrobrás, Volkswagen

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