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3. O Amante - Textos publicados na Folha
Duras reescreve sua vida em romances
(publicado em 17/10/1998)
RODRIGO AMARAL
de Paris
Marguerite Duras bem que tentou fazer de sua vida um livro aberto. Sua experiência pessoal é a principal matéria-prima dos mais de 50 romances, peças de teatro e filmes que produziu. Mas ela não resistiu à tentação de reescrever passagens de sua vida.
É o que mostra uma nova biografia da escritora lançada na França. No livro, a historiadora e jornalista Laure Adler procura distinguir as versões apresentadas por Duras de sua trajetória real.
Para tanto, Adler, que não esconde a admiração que sente por sua biografada, tratou de entrevistar pessoas que conviveram com Duras, como colegas de escola, companheiros de militância de esquerda e moradores das cidades no Vietnã e no Camboja, onde a escritora passou a infância.
Além disso, Adler teve acesso a uma série de documentos inéditos, deixados por Duras após sua morte, em 1996, aos 82 anos.
Dessa pesquisa emerge o retrato de uma escritora prolífica e audaciosa, mas arrogante e narcisista, que, no fim da vida, referia-se a si mesma apenas na terceira pessoa.
Um exemplo pessoal é a história do rico amante chinês que, aos 15 anos, Duras teve na Indochina, com o apoio entusiasmado de sua mãe e seus irmãos, que viram ali uma oportunidade de resolver os problemas financeiros da família.
A história se tornou célebre com o livro "O Amante", de 1984, que guinchou o nome de Duras dos círculos literários e do cinema alternativo para a lista de best sellers.
Adler, no entanto, colheu depoimentos de moradores das cidades onde a história se passa e comparou-os com textos que Duras escreveu em sua juventude e permaneceram inéditos até depois de sua morte para mostrar que a coisa não era bem assim.
Por exemplo, Duras conta que sua mãe havia sido pianista em um cinema de Saigon, o que não é verdade, mas dava um certo glamour à mãe-personagem.
Da mesma forma, a jovem de "O Amante" é totalmente indiferente ao rico pretendente e só aceita fazer o seu jogo porque sua mãe e seus irmãos querem morder a herança do rapaz.
Mas Adler mostra que também Duras sentiu atração pelo dinheiro que seu amante se dispunha a gastar com ela.
Em um texto escrito no fim de sua vida, Duras apresenta uma nova versão e afirma que chegou a amar o rico pretendente chinês.
Outro episódio que Duras tentou apagar de sua biografia diz respeito a um livro escrito em 1940, ainda com o seu nome de família (Marguerite Donnadieu), em que a autora, então trabalhando para o governo, faz uma apologia do colonialismo --que, mais tarde, condenaria ferozmente, como era praxe de toda a esquerda francesa.
Durante muito tempo, os livros de Duras foram criticados por um excesso de maneirismo e lidos por um reduzido círculo de admiradores fiéis.
No fim de sua vida, porém, com a publicação de "O Amante", que vendeu mais de 2,6 milhões de cópias só na França, ela chegou a ficar rica e virou quase uma celebridade pop.
Livro: Marguerite Duras
Autor: Laure Adler
Lançamento: Éditions Gallimard
Onde encomendar: http://www.fnac.fr
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