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Vargas Llosa afirma literatura engajada

(publicado em 07/10/1996)

CRISTINA GRILLO
enviada especial a Frankfurt

O escritor peruano Mario Vargas Llosa, 60, afirma que política não é o seu forte e que não voltará a concorrer à presidência de seu país --o que havia feito em 1990.

Mas durante uma entrevista de uma hora e meia concedida no sábado, em Frankfurt, quase não falou de outro assunto.

Criticou Alberto Fujimori, presidente do Peru, falou mal de Fidel Castro, reclamou dos escritores que consideram que a literatura não deve ter ligações políticas.

"Não é minha culpa se pareço estar falando como um candidato à presidência, mas acho que algumas coisas precisam ser sempre ditas. Aprendi que sou um mau político e por isso agora minha participação será apenas fazendo o que sempre fiz: escrevendo", afirmou.

O escritor peruano, que ontem foi homenageado com o Prêmio da Paz, concedido pela Câmara Alemã do Livro, disse ter mudado muitos conceitos durante sua vida, mas que continua defendendo o engajamento da literatura em questões políticas.

Llosa criticou muito Fujimori. "É trágico ver o Peru voltando ao autoritarismo, agora somado a uma tolerância à corrupção e ao narcotráfico. Mais trágico ainda é ver a tolerância e cumplicidade da comunidade internacional".

Llosa criticou também a preocupação de países desenvolvidos com o que chamou de excessiva preocupação com a questão ambiental do terceiro mundo.

"Essa é uma nova forma de discriminação. Não se pode tentar barrar o desenvolvimento e ainda não foi descoberto um modelo que una esse aspecto à preservação ambiental", afirmou.

Elogiou Vaclav Havel, o presidente da República Tcheca. "É um dos raros políticos cujos discursos podem ser lidos", disse.

Sobraram farpas também para os europeus que elogiam Fidel Castro. "Não entendo como pessoas esclarecidas, que não aceitariam uma ditadura em seus países, defendem Fidel. Considero isso uma idiotice".

Projetos

Llosa disse que acaba de escrever um livro de ensaios sobre a influência dos mitos indígenas na cultura latino-americana dos anos 20. "A Utopia Arcaica" deverá ser lançado até o final do ano.

Agora, o escritor se dedica a mais um romance, "Os Cadernos de Dom Rigoberto", ainda sem data prevista para lançamento. O romance, de acordo com o autor, é bastante diferente de "Lituma nos Andes", seu livro anterior.

"Depois de escrever um romance sombrio como "Lituma" e de um ensaio como "A Utopia", me sinto em férias escrevendo "Os Cadernos de Dom Rigoberto."

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Lançado: 21/12


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