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15. Pantaleón e as Visitadoras - Textos publicados na Folha

Amazônia empresta contornos a premiada sátira peruana

(publicado em 21/06/2002)

DENISE MOTA
Editora-assistente da ilustrada

"PANTALEÃO e as Visitadoras" é dado a superlativos. O filme estréia em circuito comercial no Brasil hoje, três anos após representar o maior orçamento da história do cinema do Peru (numa produção de US$ 2 milhões), basear-se em romance homônimo publicado em 1973 pelo mais prestigiado escritor do país, Mario Vargas Llosa, atrair o maior número de público em salas peruanas em 99 (630 mil espectadores) e angariar sete troféus na edição de 98 do Festival de Gramado: melhor filme, direção, ator, roteiro, montagem e os prêmios da crítica e do júri popular.

No comando desse time, um ex-presidente do clube peruano de futebol Sporting Cristal: o cineasta Francisco Lombardi, que já havia levado em 1985 outro romance de Llosa para as telas, "La Ciudad y los Perros" --e cuja versão de "Pantaleão" registra mais uma vitória ao ter superado em muito a primeira filmagem do romance, em 75, sob direção do próprio Llosa (ao lado do diretor espanhol José María Gutiérrez), malogro fílmico reconhecido pelo escritor.

A partir de entrecho cômico (a história de um oficial exemplar do Exército que é incumbido de organizar ofertas de prostitutas a soldados remetidos aos rincões da Amazônia peruana), o filme de Lombardi sabe se aproveitar das situações ridiculamente verossímeis, embora improváveis, resultantes da missão de tal natureza.

Assim, na primeira parte da produção, o capitão Pantaleão Pantoja (Salvador del Solar), em carreira ascendente na corporação, marido exemplar, militar obediente, se ocupa da criação de um certo "serviço de visitadoras" --eufemismo para designar a prostituição institucionalizada--, que surge como solução, nos círculos do Exército, para aplacar os impulsos sexuais da tropa, apontada como responsável pelos índices alarmantes de estupro registrados em Iquitos.

A rigidez, os jargões e os trâmites da hierarquia militar acompanham o desenrolar patético dos acontecimentos, na qual se fazem presentes os burlescos relatórios que Pantoja envia a seus superiores, a repentina transformação do capitão em cafetão oficial (que abandona a farda para camuflar-se sob camisas berrantes) e a sua obsessiva dedicação ao sucesso da empreitada.

Na escolha meticulosa das "visitadoras", encontra a deslumbrante Colombiana (Angie Cepeda, em personagem que na versão do longa de 75, curiosamente, levava o nome de a Brasileira). É quando se desdobram os tons dramáticos da situação, advindos sobretudo da seriedade e do cumprimento cego a ordens com que Pantoja revestiu toda a vida.

Francisco Lombardi gosta de cutucar satiricamente instituições e valores significantes para a América Latina, seja a exaltação da virilidade e a sociedade patriarcal, em "Não Conte a Ninguém" (98), seja o Exército, caso deste "Pantaleão". Suas cócegas fazem rir, mas também despertam para visões multifacetadas da realidade da região.

O novo filme do diretor, "Tinta Roja", tem como tema a imprensa sensacionalista e está em exibição neste domingo em São Paulo, dentro do festival Cinesul.

Pantaleão e as Visitadoras
Pantaleón y las Visitadoras
Bom
Direção: Francisco J. Lombardi
Produção: Peru/Espanha, 1999
Com: Salvador del Solar, Angie Cepeda, Pilar Bardem, Mónica Sánchez
Quando: a partir de hoje nos cines Cineclube DirecTV, Espaço Unibanco, Jardim Sul, Lumière, Sala UOL e Top Cine

TINTA ROJA. De: Francisco J. Lombardi. Produção: Peru/ Espanha (2000). Com: Gianfranco Brero, Giovanni Ciccia, Fele Martinez, Lucía Jiménez. Quando: domingo (dia 23), às 16h30. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro, São Paulo, tel. 0/xx/11/3113-3651).

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