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Maugham busca iluminação no Oriente
(13/12/2003)
MARCELO FERRONI
free-lance para a Folha de S.Paulo
O talento como narrador e a clareza de escrita fizeram do britânico William Somerset Maugham (1874-1965) um dos autores mais lidos de sua época. Maugham escreveu profusamente. Entre peças, coletâneas de contos, ensaios, livros de viagem e romances, contam-se mais de 60 obras. "O Fio da Navalha", de 1944, é considerado o seu último grande trabalho.
O livro conta a história de Larry Darrell, um jovem que volta a Chicago depois de servir como piloto na Primeira Guerra Mundial. A morte de um amigo no campo de batalha, no entanto, o transformou. Em sua cidade natal, Larry começa a expressar dúvidas existenciais e a buscar algo que nem ele consegue definir ao certo.
Decidido a aplacar suas inquietações, Larry parte para Paris, onde estuda filosofia. De lá, prossegue viagem até chegar à Índia, em busca de iluminação espiritual.
O livro teve duas adaptações para o cinema. A primeira, em 1946. A seguinte, de 1984, tem Bill Murray no papel de Larry.
Em "O Fio da Navalha", ao escrever na primeira pessoa, Maugham assume o papel de personagem, disposto a contar o que viu e ouviu a respeito de Larry. "Este livro consiste das recordações que tenho de um homem com quem, em épocas muito espaçadas, tive íntimo contato; mas pouco sei do que lhe aconteceu nos intervalos", escreve ele nas primeiras páginas.
Os cenários múltiplos em que se passa a história de Larry --os círculos sofisticados de Londres e Paris, o sul requintado da França, o ambiente místico da Índia-- dizem muito da vida "internacional" de Maugham.
Nascido em Paris, em 25 de janeiro de 1874, morou na França até os dez anos, quando ficou órfão e foi mandado para a Inglaterra para viver com um tio. Formou-se em medicina, mas, com o relativo sucesso de seu primeiro romance, "O Pecado de Liza" (1897), decide seguir a carreira literária. Em 1915 veio "Servidão Humana" --história semi-autobiográfica das dificuldades de um jovem estudante de medicina para atingir a maturidade.
Disfarçado de repórter, Maugham chegou a trabalhar como elemento de ligação entre a inteligência britânica e seus agentes na Revolução Russa de 1917.
As experiências lhe renderam idéias para "O Agente Secreto", coletânea de contos publicada em 1928. Na década de 30, Maugham chegou a ser o escritor mais bem pago da época. "Nunca tentei ser algo além de um contador de histórias", disse certa vez. Suas obras confirmam essa grande qualidade: Maugham foi, acima de tudo, um grande narrador.
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