5. O Grande Gatsby - Textos publicados na Folha

Scott Fitzgerald

(publicado em 03/10/96)

CARLOS HEITOR CONY
especial para a Folha

Rio de Janeiro - Encontro meu amigo João Máximo no aeroporto, para variar, abraçado a uma porção de livros de tamanhos e grossuras diferentes. Penso que vai embarcar para São Paulo. Não, vai a Niterói, fazer uma palestra sobre Scott Fitzgerald numa faculdade de lá. Estranho o itinerário que ele está cumprindo (ir a Niterói via aeroporto), mas tudo é possível. Não estranho o tema e a oportunidade de sua palestra.

Ele é um dos nossos intelectuais que mais conhecem uma fase da vida americana, justo a do autor de "Suave é a Noite". E a oportunidade é óbvia: é o ano do centenário de seu nascimento.

Enquanto espero meu vôo (e o João espera provavelmente uma barca encalhar ali no Santos Dumont), faço uma afirmação que ele contesta. Scott Fitzgerald é o mais importante pequeno-grande autor deste século que está acabando.

Os gigantes da literatura americana no século 20 estão correndo o risco de não ficarem. Ganharam o Nobel, tiveram suas obras filmadas, mas quem ainda se emociona com Dreiser ou Sinclair Lewis? Não fosse o filme com Lyz Taylor, Dreiser seria hoje um esquecido, ninguém iria a Niterói fazer uma palestra sobre ele. Respeita-se o universo ficcional de Faulkner, autor para autores, sua técnica insuperável. Mas quem ama, briga ou se reconcilia por causa de "Santuário" ou "O Som e a Fúria"?

Hemingway está ameaçando ser mais um personagem do nosso tempo do que um autor. Steinbeck é um excelente contador de histórias, teve uma visão de mundo, mas não criou "pathos". Ao contrário desses gigantes, Scott Fitzgerald não deu certo nem na vida nem na literatura. Mesmo assim deixou uma obra até que imperfeita e fragmentada, mas colocou mais verdade nela do que os acima citados.

Está mais para Poe do que para Melville --para citar exemplos do século passado. Cada vez mais, seu nome é citado, seus livros lidos e discutidos. E amados.

Scott Fitzgerald

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