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8. Trópico de Câncer - Textos publicados na Folha

Estudo vê as formas de amor a três

(publicado em 09/08/1997)

MAURICIO STYCER
da Reportagem Local

Adão, Eva e a serpente foram os primeiros. Henry Miller, sua mulher June e Anais Nin, os mais famosos. Super-Homem, Lois Lane e Clark Kent, os mais discretos.

Um novo subgênero literário acaba de nascer para contar essas e outras histórias: é a "triografia", ou o "o estudo dos trios no amor".

A obra que traz os detalhes picantes dos relacionamentos amorosos de mais de 30 trios se intitula "Three in Love - Ménages à Trois from Ancient to Modern Times" (Três no Amor - Ménages à Trois dos Tempos Antigos aos Atuais).

É um catatau de 450 páginas, que acaba de ser lançado nos EUA, com boa repercussão. Como não poderia deixar de ser, o estudo foi realizado por um trio, os escritores Barbara Foster, Michael Foster e Letha Hadady, que desde 1981 vivem um clássico "ménage à trois".

Os personagens desse livro são, basicamente, escritores, filósofos, artistas e políticos --pessoas que, por causa da fama, não conseguiram manter entre quatro paredes detalhes de suas vidas amorosas.

Ambiciosos, os autores de "Three in Love" procuram ver de que forma a opção pela vida a três influenciou ou afetou as obras e as trajetórias dessas celebridades.

Sugerem, por exemplo, que o escritor francês Victor Hugo só encontrou paz para escrever a sua obra maior, "Os Miseráveis", quando sua mulher, Adèle, aceitou a presença da amante do escritor, Juliette, e os três, mais os filhos, formaram uma família.

Antes de narrar, como chamam, essas "histórias de amor", os autores procuram definir o conceito de "ménage à trois". Em primeiro lugar, esclarecem, não há nada em comum entre a vida a três e o adultério. "Essa é uma confusão infeliz, mas comum", lamentam.

O que interessa aos autores é a experiência compartilhada a três de forma radical, mesmo que apenas espiritualmente, como no caso da intensa relação --tudo indica, apenas, platônica-- entre os filósofos Friedrich Nietzsche e Paul Rée e a musa Lou Andreas-Salomé.

Em todo caso, observam, a vida a três só atinge a plenitude quando se divide tudo, inclusive a cama. "Um trio bem-sucedido vira 'trissexual'. Três no amor é especial, uma coisa a parte, embora não necessariamente fácil", dizem os autores, por experiência própria.

"Famosos ou não, todas as pessoas que vivem a três bebem da mesma fonte de narcisismo, voyeurismo e da incontrolável necessidade de ser três. Todos são tentados no fogo do ciúme. A dialética de paixão versus compaixão permanece constante", escrevem.

"Se o egoísmo prevalecer em ao menos um, a relação vai degenerar no clássico triângulo, com brigas, acusações, divórcio e violência", prosseguem, antes de fazer uma pequena apologia: "Mas se o ménage florescer, uma energia especial pode e faz coisas fascinantes acontecerem --nas artes, cinema, na vida. Na sua vida", escrevem.

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