Folha Online
Biblioteca Folha
22. Dublinenses

Leia o texto da contracapa do livro

MARCELO PEN
crítico da Folha

"O centro da paralisia." Foi assim que James Joyce definiu Dublin, justificando a escolha da cidade como cenário desta "história moral" de seu país.

Concluídos em 1907, os contos de Dublinenses esperaram sete anos para serem publicados. Os editores temiam sua temática pouco ortodoxa, que incluía figuras marginais da sociedade, a linguagem por vezes forte e a menção a pessoas e lugares reais.

Quando o livro foi enfim lançado, acrescentado de três histórias às doze do projeto original, acabou vítima de resenhas negativas, levando Joyce a lamentar-lhe o "solene fiasco". Seus contemporâneos ainda não estavam prontos para a proposta estética da obra, hoje considerada um dos primeiros marcos da literatura moderna e um dos maiores conjuntos de contos de todos os tempos.

Se, inicialmente com Retrato do Artista Quando Jovem, e depois com Ulisses e Finnegans Wake, o autor aprofunda as inovações formais, tanto estilísticas quanto narrativas, em Dublinenses a revolução se dá de outro modo.

Compostas num registro tradicional, as histórias captam, a partir do microcosmo da "querida e suja Dublin", o espírito do homem do século 20, preso entre a velha ordem estagnada e o mundo novo, o qual falha em lhe oferecer parâmetros éticos claros.

Apesar da atmosfera de melancolia que, comum às narrativas desta coletânea, fez a crítica chamar a obra de "romance fragmentário", é possível encontrar momentos de humor e de esperança. Um exemplo é o conto "Os Mortos", que, com seu belíssimo relato de amor imorredouro conservado no coração de uma mulher, sugere as soluções mais solares da produção subseqüente do autor.

Livro da semana

Livro anterior

"Sargento Getúlio"
Lançado: 21/12


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.