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25. No Caminho de Swann

Por que ler Proust?

(publicado em 07/07/2002)

A convite do Mais!, três críticos comentam a importância da obra do autor francês para a literatura mundial.

"Porque Proust criou uma inteligência das paixões e dos sentimentos e com isso criou um horizonte além do qual nós temos dificuldade em enxergar. Claro que essa inteligência das paixões e dos sentimentos não nos traz nenhum refresco, mas seriam menos nossas não fossem assim criadas por Proust."

José Maria Cançado, jornalista, autor de "Os Sapatos de Orfeu" (ed. Scritta)

"Há dois romancistas decisivos para a literatura do século 20, que são James Joyce e Marcel Proust. Em ambos, há uma importância muito grande com respeito à morte, e a construção da ficção se faz a partir da morte. No entanto o processo é diferente; enquanto, em Joyce, existe um processo de fragmentação, há, em Proust, um processo de reconstrução metafórica na concatenação dos períodos, que se opõe ao primeiro."

Donaldo Schüler, ensaísta e tradutor de "Finnegans Wake" (Ateliê Editorial), de Joyce

"Mais do que o devassador, microscópico e telescópico, do 'grand monde' francês da belle époque, Proust foi, ao lado de Joyce, responsável pela instalação do romance moderno em seu domínio próprio, pantanoso e movediço: o da consciência. A desconfiança do realismo epidérmico; a obsessão em reconsiderar a experiência do mundo através do filtro estético, livre das amarras da percepção habitual; a rejeição da memória voluntária, com vocação de arquivo morto; a percepção essencial da identidade como uma sucessão de eus; a agudeza ao anotar os descompassos do desejo --tudo isso faz do narrador de 'Em Busca do Tempo Perdido', às voltas com um monstro 'janusiano, triádico e ágil', uma Divindade em que Tempo, Hábito e Memória se combatem e se combinam (a imagem é de Beckett, leitor e entusiasta de primeira hora), marco maior na investigação dos labirintos do sujeito na modernidade."

Fábio de Souza Andrade, professor de teoria literária na USP e autor de "O Engenheiro Noturno" (Edusp), sobre a lírica de Jorge de Lima.

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