29. Sargento Getúlio
Um discreto barroquismo baiano
(publicado em 23/05/1999)
ROGÉRIO ORTEGA Coordenador de Artigos e Eventos
Não é exatamente novidade aludir a um certo "barroquismo baiano" ao falar de João Ubaldo Ribeiro. O próprio escritor põe lenha nessa fogueira ao dizer que "nenhum baiano está imune ao barroco", na última edição dos "Cadernos de Literatura Brasileira", do Instituto Moreira Salles.
Ao mesmo tempo, Ubaldo adverte para a simplicidade que há em coisas indubitavelmente barrocas, como Bach. Se esticarmos generosamente o termo, à semelhança do filósofo catalão Eugenio D'Ors (1881-1954), podemos enxergar os mesmos traços na sua literatura, tão rica quanto depurada, e (guardadas as evidentes proporções) na conversa de Ubaldo, caudalosa, cativante e sem traços de pedantismo, a despeito da considerável erudição do itaparicano.
Ubaldo compartilhou esse "barroquismo discreto" com o público no evento que retomou, em 12 de abril, o ciclo "Com Todas as Letras", parceria da Folha com a Academia Brasileira de Letras, na qual o escritor baiano ocupa --segundo ele mesmo, não sem uma implacável campanha de seus amigos-- a cadeira de número 34.
Na conversa, Ubaldo passeou por seu mais recente livro, "A Casa dos Budas Ditosos", dedicado à luxúria dentro da coleção "Plenos Pecados", da editora Objetiva; pelas peripécias da sua eleição para a Academia; por histórias que envolviam pessoas e personagens, estes tão vivos quanto aquelas; por sua maneira de escrever um livro, sempre começando pelo título.
Que mais dizer? Como reproduzir fielmente as inflexões, os gestos, os casos bem-humorados que Ubaldo, seguidor de uma tradição de grandes contadores de histórias, desfiou no auditório da Folha por pouco mais de duas horas? Pode-se apenas afirmar que, pelo público, a noite teria sido bem mais longa. Ou que, de Gregório de Matos a Ubaldo, o "barroco baiano" continua vivo e saudável.
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