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9. Rumo ao Farol - Textos publicados na Folha

Bob Wilson emociona Paris com 'Orlando'

(publicado em 23/10/1993)

FERNANDA SCALZO
De Paris

Bob Wilson não deixa mais Paris. Foi tanto o sucesso de sua adaptação de "Orlando", que uma nova temporada já está prevista entre 31 de maio e 3 de julho do ano que vem, no Teatro Odeon. Nesse meio tempo, Wilson mostra na Opera Bastille sua montagem de "Madame Butterfly", a partir de novembro.

A atriz Isabelle Huppert, que leva o monólogo da montagem que fez Bob Wilson do romance de Virginia Woolf, é a grande responsável pelo sucesso francês de "Orlando". A atriz consegue imprimir um tom muito pessoal ao formalismo da montagem, que prevê cada gesto do personagem.

Deitada num canapé com os pés, um sobre o outro, apontados para cima e uma mão milimetricamente apoiada na testa, Huppert começa a desfiar o monólogo de "Orlando", que vai percorrer quatro séculos de história. Os objetos de cena, o canapé, um aparador que vai surgir depois, são todos pensados para não definir o tempo e o lugar em que está Orlando. Servem apenas como alusão a um mundo real.

A iluminação faz o papel de um outro ator e contracena com Huppert. É o espaço, que pode ser o palco inteiro, ou metade dele, ou ainda só uma porta, sempre definido pela luz, que condiciona os movimentos da atriz. Sua sombra faz o papel do outro.

O que interessa, nesta montagem de Bob Wilson, são os movimentos internos de Orlando, marcados por gestos muito precisos e pela alteração do tom de voz da atriz e também pelo lugar de onde ela sai: que pode ser a boca de Isabelle Huppert, ou de dois grupos de alto-falantes que se alternam, jogando o som como se fosse para dentro e para fora de Orlando.

Sozinha no palco por duas horas de espetáculo sem intervalo, Isabelle Huppert vai se esvaindo em palavras, entremeadas por silêncio e música. Uma melodia hipnótica que embala os humores do personagem e marca as passagens do tempo.

O romance "Orlando" (1928) de Virginia Woolf foi inspirado por Vitta Sackville-West, também escritora, por quem Woolf era apaixonada. Orlando começa sua história como homem, amante da rainha Elisabeth. Depois de ser abandonado por uma patinadora russa, Orlando vai para Constantinopla como embaixador, onde se torna mulher. Volta então para a Inglaterra e chega ao século 20. Bob Wilson já havia apresentado essa mesma montagem em Berlim, em 1989, com Jutta Lampe no lugar de Isabelle Huppert.

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