9. Rumo ao Farol
Leia o texto da contracapa do livro
LUÍS AUGUSTO FISCHER
colunista da Folha
A literatura produziu clássicos absolutos falando de viagens. O retorno de Ulisses a sua casa, na Odisséia; o périplo de Dante, na Divina Comédia; as andanças do cavaleiro Dom Quixote. E um simples passeio de barco, a uma ilha vizinha, pode render um clássico? Na mão de Virginia Woolf, sim.
O enredo põe em ação um grupo familiar, os Ramsay, e alguns amigos, numa casa de praia da Grã-Bretanha, em dois momentos distintos.
O primeiro ocorre quando a Sra. Ramsay, mãe de oito vigorosos filhos, está no esplendor de sua beleza, discreta e luminosa; ela e seu marido, um intelectual de méritos, recebem na casa um aluno dele, um velho poeta, um botânico, uma pintora.
Vivem-se os momentos anteriores à 1ª Guerra (1914); todos ali são refinados, delicados, de intensa vida intelectual. E a Sra. Ramsay percebe que aquele é um momento único de felicidade.
Mas as coisas mudam, porque o tempo passa. Numa breve segunda parte, o romance relata nada mais que a ausência: a harmoniosa família que ocupava a casa de veraneio não tem vindo, nos anos da Guerra. Chega-se à última parte, quando os remanescentes da família e dos
amigos voltam à casa, já um tanto deteriorada.
Desta vez, passada a Guerra, vai-se realizar o passeio de barco até a ilha do farol, passeio prometido desde anos antes, quando todos ainda estavam presentes e o futuro parecia uma certeza.
Rumo ao Farol é um romance de narração delicada e tempo espesso. Tudo acontece mais na interioridade dos personagens do que em suas ações, e tudo chama para os detalhes da sensibilidade individual.
Mas nessas pequenas percepções se lê muito mais que a crônica do amadurecimento, da desilusão com a vida, do fim da infância, porque tudo se integra e se dissolve no andamento maior da História, que costuma ser grandiosa na decadência dos impérios.
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