12. A Consciência de Zeno
Leia o texto da contracapa do livro
BERNARDO AJZENBERG
ombudsman da Folha
Em seu relato autobiográfico, criado originalmente como instrumento de apoio a um tratamento psicanalítico, o burguês e bon vivant quase-sessentão Zeno Cosini, de Trieste, exibe todas as suas fragilidades, falcatruas e desvios, dos menores aos maiores, em ações, omissões e sentimentos.
Vício do fumo, infidelidade conjugal permanente, ciúme doentio, inveja, hipocrisia, fingimento, cinismo, imposturas, medo da velhice, fúria, indiferença para com a família...
A lista de "pecados" de Zeno é extensa - como são ilimitados os sonhos e as fantasias que a alimentam.
Mas também é grande o sofrimento que emana dessa espécie de diário, ante as agruras de uma vida dupla, do ócio improdutivo, da orfandade relativamente precoce, da doença e da dor, da morte, do amor não-correspondido. De um desejo de felicidade cuja satisfação se mostra, ao final, inatingível.
Lançado na Itália pouco depois da Primeira Guerra Mundial, em 1923, A Consciência de Zeno forma, na literatura universal, um dos mais valorosos painéis, nos quais se mesclam à vida cotidiana questões de amplo alcance cultural, científico e filosófico. Com destaque, aqui, para a "nova" psicanálise.
O romance de Italo Svevo, não por acaso, é um daqueles nos quais o protagonista mais se desnuda. Ele expõe, a um tempo, com ironia e detalhes surpreendentes de tão ínfimos, não apenas o desencontro público e privado de um indivíduo sem eixo, mas também a decadência da classe e do período histórico que ele, sem saber, representa.
|