18. Morte em Veneza - Textos publicados na Folha
A morte de Schoenberg
(publicado em 11/10/2002)
TEDDIE ADORNO
25.08.1951
Caro e prezado sr. dr. Mann,
Fiquei muito comovido com a morte de Schoenberg, não apenas por não poder refazer uma relação infeliz, mas ainda porque ele não pôde levar a bom porto, e não apenas por motivos empíricos, suas duas grandes criações bíblicas. Há poucas semanas assisti, em Darmstadt, à estréia do "Cordeiro de Ouro", com regência de Scherchen, como se vivesse uma cena de seu "Dr. Fausto". A obra, composta há 20 anos, causou-me grande impressão, pela força e espontaneidade, por seu efeito quase imediato a despeito de toda a complexidade _e do conservadorismo.
É claro que digo isso em sentido sublimado. Aqui só se pode falar em conservadorismo no sentido em que Schoenberg o defende em seu último livro: a música deve conduzir suas tensões internas a um equilíbrio, por obra da totalidade _o que é, no fundo, um ideal harmônico. Não é difícil imaginar o dia em que Schoenberg será "música clássica", assim como os jovens físicos quânticos podem chamar de clássica a teoria de Einstein. Mas esse caráter clássico, por mais que se apresente como limite aos potenciais explosivos, não exclui a realização máxima. É uma pena que não tenhamos ouvido juntos essa peça.
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