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18. Morte em Veneza

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MARCOS FLAMÍNIO PERES
Editor-adjunto do "Mais!"

Na curta estada que decide passar em Veneza, o consagrado escritor Gustav von Aschenbach pensa deixar por apenas algumas semanas a fria e bela Munique, território de sua luta extenuante e quase ascética com as palavras, e se permitir "um pouco de vida de improviso" na exuberante rainha do Adriático.

Autor de uma epopéia sobre a formação da nação alemã e de um elogiado tratado sobre as artes, Aschenbach se verá enredado, contudo, em uma viagem de iniciação poderosamente irônica, onde, sob os influxos do mar e do sol mediterrâneos de arcaicas reminiscências pagãs, a paixão pelo jovem Tadzio irá valer por uma descida à desagregação dionisíaca da vontade. Desfigurado, o mundo deste Goethe moderno se transforma em uma quimera que o arrasta para o desconhecido e lhe fornece, de modo sinistro, uma medida trágica para a passagem do tempo.

Construída a partir de espelhamentos premonitórios de personagens e situações, esta novela magistral é uma obra de síntese, percorrida simultaneamente por tensões entre classicismo e romantismo, decadentismo e naturalismo, velhice e juventude, mito e história.

Veneza sublime e grotesca que Thomas Mann descreve, repousando sua majestade incomparável sob o ar pesado e sufocante do siroco e sobre as águas podres e maléficas da laguna, se constitui certamente em um dos grandes momentos da literatura --comparável à Milão de Os Noivos, de Manzoni, e à Londres de O Diário do Ano da Peste, de Defoe.

Mas, nesta narrativa de formação às avessas que é Morte em Veneza, será apenas o mergulho no desmesurado que irá tornar palpável ao artista - este "impostor nato" - a autonomia e a dissolução que, paradoxalmente, procura.

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