30. Quase Memória
Cony lança biografia de sua geração
(publicado em 11/10/1997)
MARCELO RUBENS PAIVA especial para a Folha
Tem livro novo de Carlos Heitor Cony na praça: "A Casa do Poeta Trágico". É o seu primeiro livro depois de faturar o cobiçado Prêmio Nestlé, versão 1997 - com "O Piano e a Orquestra".
Cony, 71, é rápido. Escreve suas crônicas diárias para a Folha em dez minutos. Escreveu "A Verdade de Cada Dia", de 1959, em nove dias, e o aclamado "Quase Memória" em três semanas.
Desta vez, passou oito meses debruçado sobre "A Casa do Poeta Trágico".
O livro conta o amor e a ruína do casal Augusto e Mona --ela, uma jovem 30 anos mais nova que ele. Detalhe: o autor é casado com Beatriz, 40 anos mais nova.
Releitura de "Lolita"? Não. Cony define seu livro como "O Mundo de Sofia dos sentimentos humanos" e afirma ser uma quase biografia, ou melhor, "a biografia de uma geração".
No romance, existem duas plataformas de tempo, o hoje e o passado. Augusto Richet, ex-publicitário, beira os 70 anos, mora em Itaipava (RJ), está numa cadeira de rodas, é cínico, azedo e terminal.
Recebe a visita de Mona, 36, também publicitária, que mora em Milão, e que já viveu com Augusto por 17 anos. Entre eles, o cachorro Segredo, partilha de bens e rusgas.
O passado é 1975. Augusto está num cruzeiro do navio Eugenio C pela Itália. Numa viagem entediante, como são os cruzeiros pelo Mediterrâneo, ele fixa sua atenção em dois alvos: uma adolescente deliciosa e um velho repugnante.
Seguindo-os pelos corredores do navio, descobre uma relação entre eles. Rouba o bilhetinho que o alvo A, a garota, deu ao alvo B, o velho. Desce do navio e vai até Nápoles, onde mora o alvo A. Ela é Francesca, órfã de 16 anos.
Apresenta-se ao alvo A dizendo: "Você se chama Mona". Alvo A, Francesca, dá confiança a ele. Aceita mudar de nome. Aceita a "cantada" de um homem 30 anos mais velho. Mas tem um preço. Pede a Augusto que ensine toda a história do mundo. E, do contraste e do pacto, faz-se o amor.
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