30. Quase Memória
Amor é o tema
(publicado em 11/10/1997)
MARCELO RUBENS PAIVA especial para a Folha
Cony é a bola da vez. Curioso isso, como o mercado cria vértices --alguns preferem "vertentes". De tempos em tempos, um autor vira o preferido de crítica e público, ou o inverso.
Há alguns anos, elegeu-se Rubem Fonseca o escritor brasileiro de maior "punch". Fonseca trazia à baila um Brasil em desintegração, cru e criminoso.
Paulo Coelho teve seu momento. Com suas palavras doces e reconfortantes, auto-ajudou leitores.
Agora, é Cony pra lá e pra cá, em entrevista para a "Playboy", no programa "Roda Viva", na lista de mais vendidos, nos relançamentos e prêmios.
Lá vou eu em busca da armadilha. Que bom que é Cony a bola da vez. É o autor que abandona as experiências e conta histórias com simplicidade.
Ele é direto, sensível, sem pompa, sem arrogância. Seu alvo é a construção de bons personagens.
Conduz a narrativa com a intenção suprema de agradar ao leitor, de estimulá-lo a virar a página.
Foi assim em "Quase Memória", cujo narrador recebe um pacote do pai que já havia morrido. O que tem no pacote? Ora, leia até o fim. Mas, antes, saiba como foi a vida desse pai.
"A Casa do Poeta Trágico" tem seus ganchos. Augusto, o sábio, e Mona, sua cria. Augusto, o doente, e Mona, com planos. Augusto, um caçador de baleias, e sua rainha dos mares se arrostam, fazem pactos, exigem, dão se receberem.
Num livro que não dá pra largar, Cony explora a relação entre um homem mais velho e uma ninfa.
O amor é o tema, como nasce, como morre, como vira produto de uma simbiose. E é tão bom saber que a bola da vez não ajuda ninguém, nem discorre sobre métodos de esfaquear o outro. A bola da vez é a simplicidade do contar e a complexidade do amor.
Livro: A Casa do Poeta Trágico
Autor: Carlos Heitor Cony
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 18 (179 págs.)
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